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Foto do escritorFelipe Martines

No campo de batalha da vida

“Como é que se pode levar tudo aquilo a sério, quando se esta aqui na frente?”


As palavras do soldado Kropp, personagem do romance histórico-ficcional de Erich Remarque - Nada de novo no front (1929) – remontam ao sentimento muitas vezes relatado pelos veteranos de guerra, a sensação de vazio e falta de sentido ao voltaram para casa e se depararem com a rotina e vida de antes. No livro, escrito com base na vivência do autor na Primeira Guerra Mundial, acompanhamos a jornada de um pelotão de jovens soldados alemães que são enviados para as trincheiras da Grande Guerra. Lá, eles vivenciam os horrores da guerra, a perda dos companheiros e caminham lado a lado com a morte na maior parte do tempo. Entram como jovens sedentos pela vida e saem, como jovens descrentes com a vida. 


Como bem diz o personagem principal da obra, Paul: “Não somos mais a juventude. Não queremos mais conquistar o mundo. Somos fugitivos. Fugimos de nós mesmos e de nossas vidas. Tínhamos dezoito anos e estávamos começando a amar a vida e o mundo e fomos obrigados a atirar neles e destruí-los. A primeira bomba, a primeira granada, explodiu em nossos corações. Estamos isolados dos que trabalham, da atividade, da ambição, do progresso. Não acreditamos mais nessas coisas; só acreditamos na guerra.”


Como voltar a viver, depois de ter experienciado os traumas e horrores da guerra? Não são poucos os casos de veteranos que são diagnosticados com transtorno de estresse pós-traumático, depressão, ansiedade generalizada e insônia. O viver se torna sobreviver, aguentar mais um dia como se a vida fosse às trincheiras do campo de batalha. Mas o que é o tão falado “trauma”? O trauma não é o acontecimento em si, mas o modo como esse acontecimento incide sobre o psiquismo de alguém e por ele é processado. Como bem diz Freud, se as experiências de guerra fossem igualmente traumáticas para todos, não haveria mercenários. A forma como a experiência foi elaborada pelo individuo, é o que pode levá-la ter um caráter traumático.


E será que é apenas no campo de batalha que surgem os traumas? Todos os dias corremos esse risco, de passar por uma situação que coloca nosso mundo de cabeça para baixo, que muda o rumo e sentido de nossas vidas. Perder alguém querido, passar por uma situação muito estressante no trabalho, ser vitima de um ato violento contra sua integridade, como um assalto, são todas situações que por mais que pareçam distantes, podem acontecer conosco. E como seguir em frente? Como fazer o luto daquilo que foi perdido? Como achar palavras para expressar o que foi vivido? São perguntas que não tem uma resposta única, nem correta. Cada pessoa terá que achar um significado para sua vivência, achar palavras que possam dar sentido ao que foi e ao que pode vir a ser. Elaborar é necessário. Porque no fim, o mais importante é continuar a viver e não apenas, sobreviver.

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